Módulo 18. A Conquista da América

conquista da América Espanhola foi o processo de ocupação da América pelos espanhóis e consequente controle sobre as áreas até então ocupadas pelos povos nativos. O avanço dos conquistadores aconteceu pouco a pouco, à medida que eles conheciam e descobriam novas regiões e deu-se, principalmente, pelo uso da violência contra os nativos.
Contexto histórico
Com a chegada dos espanhóis à América em 1492 na expedição liderada por Cristovão Colombo, iniciou-se um grande processo de ocupação desse território. Os conquistadores encontraram na América – chamada de Índias por eles – grandes civilizações que possuíam estruturas políticas e sociais bastante complexas, o que conferiu grandes dimensões ao empreendimento espanhol. A chegada dos espanhóis ao continente americano aconteceu durante o processo das grandes navegações, que ocorreram a partir do século XV em virtude da necessidade de encontrar novas rotas comerciais para expandir o comércio europeu. Aqueles que se arriscaram a cruzar o Atlântico nesse projeto de expansão procuravam a chance de enriquecimento, principalmente com a obtenção de metais preciosos, como ouro e prata.
Características da conquista
Os espanhóis que participaram das expedições de exploração e conquista faziam por vontade própria, portanto, esses empreendimentos consistiam em iniciativas particulares. Ainda assim, essas incursões deveriam receber a autorização da Coroa Espanhola na Casa de Contratação.
O desejo de enriquecimento era o que motivava a participação nesses empreendimentos de conquista. Os chefes das expedições eram, em geral, membros da baixa nobreza espanhola e as tropas eram formadas por soldados e camponeses pobres que procuravam melhores condições de vida.
Em números imprecisos, estima-se que por volta de 100 mil espanhóis tenham cruzado o Atlântico em direção ao Novo Mundo e lá foram responsáveis pela conquista de milhões de nativos. A explicação para que um número tão pequeno de espanhóis conquistasse uma quantidade tão grande de nativos estava na superioridade de suas armas. Os espanhóis possuíam armas de fogo, lanças, espadas de metal e, principalmente, a besta, que davam vantagem para superar os grandes números de nativos em combates. Além disso, séculos de guerra e combate contra os muçulmanos na Península Ibérica deram aos espanhóis um grande conhecimento tático em guerras.
A vitória espanhola também pode ser explicada pela questão biológica, pois o contato dos nativos com os espanhóis era, por vezes, mortal por causa de uma série de doenças que não existiam na América e que atingiram de maneira fulminante os indígenas, matando vários deles rapidamente. O medo também era um outro fator a ser levado em consideração, uma vez que muitos indígenas tinham completo pavor de cavalos, animais que não existiam na América até aquele momento, e pensavam que os espanhóis eram a encarnação de deuses, como no caso dos astecas, os quais acreditavam que os conquistadores liderados por Hernán Cortés eram mensageiros de Quetzacoatl, uma das principais divindades astecas.
Violência
violência na conquista da América por parte dos espanhóis foi uma forte característica daquele momento e isso ficou evidente com os relatos do frei espanhol Bartolomeu de Las Casas, forte defensor dos indígenas, que agiu em defesa desses povos contra a brutalidade utilizada pelos espanhóis. Durante sua vida, ele escreveu uma série de textos denunciando a violência dos conquistadores e relatando os mais cruéis atos realizados. Segue um trecho de um dos relatos de Bartolomeu de Las Casas:
Seu lugar-tenente assassinou a muitos índios enforcando-os e queimando-os vivos. Lançando outros aos cães, cortando-lhes as mãos, a cabeça, a língua, estando eles em paz, isto somente para lhes incutir terror, a fim de que os servissem e lhes dessem ouro.|1|
Enquanto esteve vivo, Bartolomeu de Las Casas lutou para defender os indígenas e, por causa disso, fez inúmeros inimigos entre os espanhóis e, mesmo alcançando algumas vitórias, não pôde evitar que a violência fosse uma prática comum durante toda a conquista da América Espanhola.
|1| LAS CASAS, Bartomlomé de. O paraíso destruído: A sangrenta história da conquista da América Espanhola. Porto Alegre: L&PM, 2011, p. 72.
Fonte: https://historiadomundo.uol.com.br/idade-moderna/conquista-da-america-espanhola.htm

No caso da colonização da América Espanhola, no século XVI, várias expedições foram realizadas para tomarem posse do território, que era muito vasto. O modo pelo qual se estabeleceu a dominação, variou muito de região para região, devido, sobretudo, aos habitantes que lá já viviam. Dentre as denominadas três grandes civilizações indígenas, maias, incas e astecas, só as duas últimas sofreram o ataque, pois os maias já haviam sido extintos antes da chegada dos espanhois. Os astecas estavam ao norte, hoje no atual México, e os incas ao sul, atual Peru, mas ambos processos de colonização foram discutidos de maneira parecida pela historiografia, principalmente àquela romântica do século XIX, com a denominação de grandes conquistadores que lideravam o movimento. Foram esses, Hernán Cortés e Francisco Pizarro.
– A conquista do México
Em 1519, Cortés e sua armada aportaram na ilha de Hispaniola (atual República Dominicana), previamente explorada por Colombo. Porém, não permaneceram ali e viajaram para as terras à oeste, que futuramente seria chamada de Yucatán, península no litoral mexicano. No continente, a quantidade de ouro era muito maior do que nas ilhas, um atrativo maior. Essa viagem até tornou-se, acima de tudo, um desejo pessoal muito grande de Cortés, de vencer, de ser o primeiro a chegar a tal lugar. Na imaginação do conquistador, Montezuma reconheceria a superioridade do império do rei Carlos V e se renderia. Não haveria a necessidade de qualquer tipo de batalha, porque ser súdito do rei espanhol e cristão era a única possibilidade que passava em sua mente.
No momento em que Montezuma II soube da chegada do grupo espanhol, ordenou que se retirassem. Os conquistadores, por sua vez, não se aventuraram sozinhos pelo território desconhecido. Vários povos indígenas que já haviam sofrido com a dominação asteca se uniram aos europeus para derrotar seu inimigo maior. O uso de intérpretes por parte dos espanhois foi fundamental para o sucesso na conquista. Ao chegar a Tenochtitlán, Cortés foi acolhido como hóspede, o que corroborou sua ideia de uma conquista pacífica. Existia a crença de que o espanhol seria o retorno de Quetzalcoalt, deus asteca que os guiou para o crescimento e dominação da área, e, naquele momento, exerceria o mesmo papel.
Alguns historiadores dizem que pode ter ocorrido algum tipo de má interpretação, falta de compreensão por ambas as partes. Montezuma não saberia das intenções do espanhois, e estes não perceberam que não estavam sendo muito claros. Pouco tempo depois da sua chegada, Cortés mandou prender Montezuma e o obrigou a reconhecer a superioridade do rei espanhol.
Em 1520, durante o curto período de ausência do conquistador, um de seus comandantes deu início a um massacre contra os nobres astecas, com o resultado de quase 2 mil mortos. Foi o início da guerra. O desenvolvimento bélico dos europeus era maior. O uso da pólvora e do canhão surpreendeu aos indígenas, assim como os cavalos, animal não nativo daquele território. Contudo, os nativos se adaptaram. Conheciam o local e passaram a promover ataques noturnos, pegando os espanhois de surpresa e os desafiando em uma terra desconhecida.
Por outro lado, as estratégias militares de Cortés fizeram toda a diferença. Se aproveitando da topografia local, pois Tenochtitlán foi uma cidade que se desenvolveu em cima do lago Texcoco, ligada por diques e pontes às porções de terra, mandou que jogassem no lago os corpos daqueles mortos por doenças como varíola ou mesmo gripe, não conhecidas pelos indígenas, altamente letais e que já tinham dizimado populações na Europa. A contaminação da água e de recursos básicos a partir de uma estratagema biológico foi a gota d’água. E em 1521, a grande capital asteca era de domínio espanhol. Eles planejaram e derrotaram um império estruturado como o asteca, com mais de 25 milhões de pessoas.
Inicialmente, Cortés recebeu condecorações da coroa espanhola, e títulos, como o de Marquês do Vale, além de ter sido nomeado governador e capitão geral. Porém, seu poder, aos poucos, encontrou dificuldade em ser mantido, devido às resistências vindas da própria Corte com suas prerrogativas. Faleceu com as finanças arruinadas em dívidas.
A conquista do México foi um dos maiores eventos históricos, sobretudo pelo choque cultural ocorrido quando europeus e indígenas encontraram-se pela primeira vez. As mudanças desde então foram plurais, tanto para aqueles que tiveram seu território invadido por homens nunca vistos, quanto àqueles que se aventuraram do outro lado do Oceano, num sonho incerto e perigoso. Esse momento histórico foi um período de fronteira, novidade, sobretudo nos estabelecimentos de relações entre os indígenas e os europeus. Os espanhois chegaram nessa terra com um objetivo certo, encontrar ouro, e se depararam com outras relações comerciais que, com o tempo, mostraram-se infrutíferas, como a escravização dos índios.
– A conquista do Peru
Na chamada América andina, a situação foi um pouco diferente. O império Inca foi conquistado por Francisco Pizarro, mas após duas tentativas frustradas. Um dos grandes motivos, além da geografia dificultosa da região, principalmente do Peru e da Bolívia, com seus terrenos entrecortados e a altitude, era a força interna do império Inca. Eles possuíam um sistema político bem hierarquizado e estratificado, encabeçado pela elite nobre, e o imperador era considerado o filho do deus Sol.
Os espanhois chegaram nas fronteiras dos incas em 1528. Já havia ocorrido a conquista do México, então estavam mais preparados sobre o que encontrariam. Nessa época, o imperador era Huayna Capac, que alegava ser da mesma linhagem do legendário Manco Cápac, criador do povo inca. Ele continuou a expansão territorial iniciada pelo seu pai, Tupac Inca, chegando a região do Equador. Ao mesmo tempo em que a supremacia inca era inquestionável, o governo de Huayna Capac passou a sofrer algumas dificuldades. O imperador se apoiava nos seus dois filhos, Tupac Cusi Hualpa, mais conhecido como Huáscar, e Atahualpa, filho ilegítimo. Enquanto o primeiro dominava a região de Cusco, capital inca,  e o segundo, originário de Quito, um dos territórios conquistados por seu pai, manteve-se no local, e contava com o apoio majoritário da armada inca. Em 1531, após disputas internas, Atahualpa tornou-se o imperador. Foi nesse imbróglio que surgiu a figura de Pizarro.
Francisco Pizarro e seus irmãos Gonzalo, Juan e Hernando, receberam permissão da coroa espanhola para conquistar a região andina em 1529. Em 1531, chegaram ao Peru e, assim como ocorreu com Cortés no México, o imperador foi informado. Além disso, os espanhois também passaram como deuses pelo povo quéchua.
Um dos primeiros passos de Pizarro foi solicitar um encontro com Atahualpa em Cajamarca, região onde estava de passagem. Hernando de Soto e Hernando Pizarro foram os emissários destinados a transmitir as prerrogativas do comandante: queriam que o chefe indígena aceitasse a fé cristã e a superioridade do papa e de Carlos V. O imperador concordou e chegou ao local combinado. Lá, foi interpelado por um espanhol a mando do conquistador, que disse suas demandas. Ele discordou. Enfurecidos, os espanhois iniciaram uma batalha sangrenta, que matou boa parte dos acompanhantes e exército inca que acompanhava o imperador, a chamada Batalha de Cajamarca.
Após esse episódio, Atahualpa foi preso pelos espanhois e sua libertação negociada a partir de uma quantidade prata e ouro. Mesmo com o esforço dos incas de reunirem a quantia, o destino do imperador foi o sacrifício. Historiadores questionam qual seria a intenção de Pizarro, se torna-lo refém e mata-lo ou apenas buscava o ouro. Muitos compreendem que o conquistador estava sendo pressionado por seus colegas e comandados a matar Atahualpa e demonstrar a superioridade espanhola. Em 1533, após quase um ano de batalhas e confrontos, as cidades de Cusco e Quito foram tomadas e a conquista terminada.
A conquista não foi a maior dificuldade dos europeus. O período de estabelecimento da colonização foi extremamente complexo para os espanhois e portugueses que aportaram na América com uma ideia pré-concebida de como dominar, mas eles não contavam com um aspecto fundamental: os indígenas. A cultura asteca, inca e de demais povos, era complexa, estruturada e enraizada naqueles nativos. Cortés e Pizarro tornaram-se figuras míticas, emblemáticas, que marcaram a conquista dos espanhois em territórios inexplorados, período de um dos maiores choques culturais da História: a conquista do Novo Mundo.
De Ana Carolina Machado
Dicas:
BERNAND, Carmen & GRUZINSKI, Serge. História do Novo Mundo – da descoberta à conquista, uma experiência européia (1492 – 1550). São Paulo: Edusp, 1997.
Fonte: https://historiandonanet07.wordpress.com/2015/10/27/a-conquista-da-america/

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